GOVERNO FEDERAL VAI REGULAMENTAR REDES DE HOSPEDAGEM
Nesses tempos de dinheiro curto quem tem um cômodo da casa sobrando tem uma boa chance de fazer uma grana extra alugando o espaço – por temporada e para viajantes – por meio de sites e aplicativos de hospedagem alternativa na internet. Pode ser um quarto, sótão, terraço, edícula, somente uma cama, ou mesmo o imóvel inteiro – sem que para isso seja necessário se ausentar do lugar. De sobra, o “anfitrião” (“host”, em inglês) tem ainda oportunidade de compartilhar experiências e conhecer gente de todo lugar.
Não é de hoje que as redes colaborativas de hospedagem – como Airbnb, Couchsurfing, Nightswapping ou Work Away – fazem sucesso mundo afora. Por aqui, a coisa tomou força a partir da Copa do Mundo de 2014. A novidade é que o governo federal estuda agora uma forma de regulamentar o setor para poder passar a cobrar impostos.
De acordo com o gerente de marketing do Airbnb para a América Latina, Samuel Soares, a missão da plataforma – presente em 190 países e em mais de 34 mil cidades, cada uma delas com leis diferentes quanto ao aluguel de temporada – é proporcionar, em cada lugar, os meios necessários para que as pessoas se sintam confiantes em abrir suas casas, beneficiando-se de uma renda extra, além da troca cultural.
“Já trabalhamos em conjunto com o governo de várias cidades a fim de encontrar soluções condizentes com as formas locais de taxação. Por isso, sempre aconselhamos que nossos usuários verifiquem essas regras. Apoiamos a regulamentação e criação de leis que se adaptem aos novos modelos de negócios, como a economia compartilhada em que se baseia o Airbnb”, afirma.
Com 1,2 milhão de anúncios de hospedagem em todo o mundo – entre castelo, casa na árvore, ilha, barco, iglu e até em farol -, 45 mil só no Brasil, ainda segundo Soares, 35 milhões de pessoas já viajaram pelo Airbnb. Somente em Salvador, 2.200 anfitriões estão abrindo as portas de casa na cidade, ele diz.
“O Brasil já recebeu mais de 450 mil turistas viajando e se hospedando pelo Airbnb, e os brasileiros já viajaram para mais de 100 países diferentes se hospedando por casas encontradas na nossa plataforma. Durante a Copa do Mundo de 2014, mais de 100 mil pessoas ficaram hospedadas pelo Airbnb no país. Foram viajantes de mais 150 países diferentes. Por aqui, aumentamos em 75% a capacidade de hospedagem no Rio de Janeiro. E em São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília, em mais de 10% as ofertas”.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital, Frederico Ceroy, quando se fala em cobrança e taxação dos serviços praticados na internet, “existe o desejo, do setor, em ter regulamentação e começar a pagar impostos”.
Ainda segundo Ceroy, com a cobrança jurídica vem a legitimação das operações. “No caso do Uber (aplicativo para carona compartilhada), em São Paulo, as próprias empresas correram atrás com intuito de regularizar. É muito difícil querer vender um serviço e não entregar nada. Sob o risco de não ter adesão popular”.
Nascida em Cuba, criada em Nova Iorque (EUA), tendo morado em Madri, na Espanha, e hoje “instalada” em Salvador, a psicóloga Alícia Sanabria, 50, começou como usuária do site até se converter em uma “super host”, como a definem no Airbnb. Alícia explica que desde sempre recebeu gente em casa, que o dinheiro extra ajuda, mas que o mais importante é “receber bem”.
“Não adianta querer só ganhar o dinheiro, tem de acompanhar o viajante. O Brasil não é um lugar fácil. E se engana que quem visita o país vem pela beleza das prais. Sou do Caribe e posso dizer que aqui não tem as melhores praias. Quando alguém quer vir para Salvador, vem por causa da cultura (negra)”, conta.
“Já viajei para vários lugares do mundo, e se hospedar por meio do Airbnb é mais barato que ficar em albergue. Mas é a experiência do contato (humano) que vale”, diz ela, que já abrigou entre 15 e 20 pessoas em sua casa, no Largo dos Aflitos, centro.
(Fábio Bittencourt – atarde.uol.com.br)
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